De todas as carreiras, o ator sabe que a sua profissão é a que mais exige preparação corporal e mental para ocupar a cena. É necessário esforço, dedicação, força de vontade e disciplina para enriquecer não só o intelecto, mas educar o corpo para ampliar e melhorar sua expressividade corporal, vocal e capacidade de comunicação. Para o ator, comunicação não significa apenas saber usar a voz e saber falar para o público. Tem a ver com energia, gestualidade e expressão física e emocional. Para tirar o maior proveito de seu corpo, que é o seu “principal instrumento de trabalho”, o ator tem procurado os mais diferentes meios e técnicas para preparar seu corpo e voz para a arte da representação. Aulas de canto, yoga, pilates, exercícios ginásticos e respiratórios, balé, bandoneon, música, contato-improvisação, dança. São práticas artísticas benéficas que melhoram não só sua capacidade respiratória, sua postura corporal, seu tônus muscular, como sensibilizam e preparam seu corpo para a ação cênica.
Eu lembro que, na época, estava tendo dificuldades corporais para trabalhar com o texto “Navalha na carne” de Plínio Marcos. Eu interpretaria a prostituta Neusa Sueli. A dificuldade não envolvia o entendimento da peça, e não tinha também nada a ver com o trabalho de direção. Tinha a ver com minha expressão corporal e vocal. Ainda não tinha encontrado a postura teatral da minha personagem. Sua gestualidade. Estava distraída, com uma concentração deficiente e com a visão e audição pouco treinadas no espaço/universo teatral. Ao longo do semestre, graças ao preparo corporal e vocal nesta disciplina, eliminei estes problemas na atuação e encontrei minha personagem. Seu aspecto físico, sua atitude em face da vida, suas motivações, seu aspecto social e psicológico. Enfim os traços essenciais do personagem para a ação. Neste sentido, dentro da escola teatral, a disciplina de consciência corporal foi muito importante para o meu preparo físico e aprendizado no treino interpretativo.
Eu comecei meu preparo corporal na dança. Na década de noventa, quando comecei a frequentar aulas de flamenco. Tinha consciência de que “a dança podia ser uma disciplina complementar para a formação e preparação corporal de uma aspirante a atriz para a cena”. Sempre gostei de me expressar com o corpo e trabalhar com música e mímica.
Sabia que a dança também revela uma teatralidade no movimento, no gesto, na expressão corporal do bailarino. Estudar dança significava para mim a possibilidade de expandir minha expressão corporal para o teatro, enriquecer minha expressão gestual para atuar por meio do trabalho de postura, coordenação, flexibilidade, fluidez. Então, mergulhei de cabeça nas possibilidades que a dança flamenca me oferecia, para me preparar de corpo e alma para o teatro e para a profissão de atriz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário